Na semana passada, entrevistei uma professora de francês de origem brasileira. Ela trabalhava em uma escola de francês preparando futuros imigrantes para o programa do Québec, a província de língua francesa do Canadá.
A professora, muito profissional, estava muita tensa. Ela revelou que nessa escola os professores precisavam fingir o sotaque do Québec para ensinar os futuros imigrantes a falar como autênticos “Quebecquois”. Isso me fez refletir.
Somos também um centro de treinamento para imigrantes, temos escolas em Curitiba e Porto Alegre. Ensinamos o francês internacional e além da cultura, também as particularidades da língua francesa no Quebec, mas nunca insistimos em utilizar o sotaque especifico dessa região.
O propósito da escola dessa professora é ensinar ao imigrante aprender o sotaque da nova região para melhor se integrar.
Se utilizarmos o mesmo raciocínio inversamente um representante de uma empresa alemã que irá estabelecer-se na região de Salvador na Bahia, deverá fazer um curso na Alemanha para aprender a falar como um baiano.
Quando chegar à Bahia e começar a falar “E aê, meu rei”, a população local pode não entender que esse alemão está querendo integrar-se melhor na nova sociedade, e sim, que ele está fazendo piada com a maneira de falar dos soteropolitanos.
Um imigrante tentando imitar o sotaque de uma região onde pretende viver não é a forma mais adequada de comunicação e poderá ser considerada como um deboche ou até mesmo um insulto aos habitantes locais. Essa situação pode até ser comparada à idéia de um típico carioca, que ao chegar ao Rio Grande do Sul, apenas veste bombachas, lenço e chapéu e diz que já é gaúcho.
O novo imigrante precisa cuidar para não fazer papel de idiota. Ao aprender uma nova língua, o sotaque nasce naturalmente, sendo o resultado da influência das línguas que uma pessoa já dominava, principalmente a(s) língua(s) aprendida(s) na infância.
A língua é um dos mais importantes valores culturais de um povo, identifica a sua origem, reforça seus valores e crenças. Aprender um novo idioma e utilizá-lo de forma natural é o melhor caminho para uma integração bem sucedida.
Pierre Terlinchamp é diretor de uma rede de escola, a Babel Language Group, especializada em treinamento lingüística e cultural de novos imigrantes para Canadá. Ele é também o autor do livro “CAP SUR QUEBEC”, uma receita para ter êxito na entrevista com as autoridades da imigração do bureau do Quebec em São Paulo.